O meu filho faz hoje dezoito anos. Quando eu tinha dezoito, o meu pai, que teria mais ou menos a idade que tenho agora, repetia vezes sem conta, como uma litania, que «tudo passa num ápice». Lembro-me de Myrtle, a actriz de «Noite de Estreia», de John Cassavetes, e da luta sem tréguas que ela trava com o papel que todos insistem em lhe atribuir: o de uma mulher que perdeu irremediavelmente a juventude. Uma luta cujo resultado será sempre a loucura ou a solidão. Em todo o caso, uma derrota. Ela sabe isso, todos sabemos isso, mas o instinto de sobrevivência força-nos a resistir. O meu filho faz hoje 18 anos. Sim, tudo passou num ápice. É como se recebêssemos uma carta que achamos que não nos pertence, apesar de apresentar no sobrescrito, em letras garrafais, o nosso nome e a nossa morada. É isso, não é, pai?