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A mostrar mensagens com a etiqueta Victor Erice

¿Qué te pasa?

A Regina Guimarães pode estar entretida com o seu bordado, mas mal levanta a voz percebemos que é uma verdadeira amazona: tem arco, cavalo e as suas palavras não se desfazem no ar.  Ontem, na sessão d' O Espírito da Colmeia , entre muitas coisas certeiras, ela disse que Isabel é uma personagem buñueliana.  Entusiasmada com a ideia, fiz uma ligação particular a Ema de Manoel de Oliveira (talvez por influência da casa ) e, de repente, o filme de Erice ganhou um novo movimento dialéctico.

Um filme olé

Logo no início d’ O Espírito da Colmeia , quando a carrinha com o projector e as bobines do Frankenstein chega a Hoyuelos e os miúdos perguntam como é o filme, o homem do cinema (boné, sobretudo e charuto) tece uma série de elogios ( maravilhoso, o filme mais bonito que existe, uma coisa divina, o melhor que já exibi, uma beleza, um filme enorme ) e no fim, como síntese da crítica, diz: é um filme «olé» .  Vou adoptar o fraseado (alterando um pouco a carga significante).

Folhas caídas

O novo filme de Nuri Bilge Ceylan chama-se As Ervas Secas . O de Aki Kaurismäki é Folhas Caídas . O último de Victor Erice começa num velho jardim meio esquecido e intitula-se Fechar os Olhos . Também entre os mestres, há um vago perfume a fim de qualquer coisa.

Car je est un autre

( No te apoyes, / si estás solo, contra la balaustrada, / dice el poeta chino) A primeira cena de Fechar os Olhos passa-se nos arredores de Paris no Outono de 1947 (Víctor Erice tinha 7 anos, Franco asfixiava Espanha). Monsieur Lévy é um judeu sefardita abastado e solitário que vive com Lin Yu numa casa grande rodeada de árvores a que deu o nome de Triste-le-Roy ( La casa no es tan grande, pensó. La agrandan la penumbra, la simetría, los espejos, los muchos años, mi desconocimiento, la soledad ). Está para morrer e chama Monsieur Franch para o encarregar de uma missão difícil: descobrir e trazer até ele a sua única filha Judith que a mãe levou para Xangai há muitos anos e se chama agora Qiao Shu. ( ¿Pero qué es un nombre? ) Não quer morrer sem ver nos olhos da filha um sentimento puro onde se possa reencontrar. Tudo o que tem, a sua própria vida nada vale sem essa consagração. Quase parece o princípio de uma história de aventuras exóticas, sim, mas a forma como é filmada diz-nos ...

Uma canção para Erice

Não consigo escrever nada de jeito sobre Fechar os Olhos : apetece-me dizer tantas coisas e em sentidos tão diversos que as palavras nem se aguentam. Ah, se soubesse, escrevia uma canção para Erice. Um fado.