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A mostrar mensagens com a etiqueta Marquês de Sade

Estudo geral das faculdades intelectuais

Ele é enterrado em Charenton com a presença de um padre e, quatro anos depois, quando o cemitério é mudado de lugar, um médico consegue acesso ao seu crânio para realizar estudos de frenologia (outro médico, Spurzheim, faz um modelo do crânio de Sade, que desaparece tempos depois...)

Tais são as verdades que pretendemos relatar

Instruir o homem e corrigir-lhe os costumes, tal é o único objectivo que nos propomos nesta história. Ao lê-la, poderá o leitor imbuir-se no conhecimento dos perigos que se encarniçam atrás dos que, para satisfazer os seus desejos, a nada atendem! Possam eles ficar persuadidos de que a melhor educação, saúde, talento e dons da natureza apenas servem para desencaminhar até ao momento em que forem alicerçados e apresentados com contrição, boa conduta, sabedoria e modéstia. Tais são as verdades que pretendemos relatar. Possa o leitor mostrar-se indulgente pelos pormenores monstruosos do hediondo crime que seremos forçados a descrever; mas é possível fazer detestar aos outros semelhantes aberrações até que surja alguém com a coragem de revelá-los sem o mínimo disfarce? Marquês de Sade, primeiro parágrafo de Eugénie de Franval , incluído em Os crimes do amor. Tradução de João Costa.

Da arte de escrever um romance

Já não me recordo onde o comprei. Talvez na Vandoma. «Os crimes do amor», do Marquês de Sade. Edição do Círculo de Leitores, de 1975. Tradução de João Costa. O livro abre com o texto «Ideia sobre os romances», onde Sade se propõe, entre outras coisas, responder à pergunta «Quais as regras da arte de escrever um romance?» O livro está em relativo bom estado. Não tem dedicatória nem sublinhados, excepto justamente naquele texto inicial e apenas na parte específica sobre as «regras» para escrever um romance. O leitor ou leitora que me precedeu, dono anterior do livro, sublinhou a lápis, linha após linha, e sem levantar a mão, todos os conselhos de Sade. Nada lhe escapou. Nenhuma frase, nenhuma palavra, nenhuma vírgula. Não existindo mais sublinhados ao longo das restantes 250 páginas, imagino que tenha sido alguém interessado em escrever romances. Terá valido a pena? Terão sido úteis os conselhos do «divino marquês»? De uma maneira ou de outra, o livro, os conselhos e os sublinhados aca

A imaginação dos poetas

O prazer sexual só foi objecto de uma experimentação e de uma descrição sistemática com o Marquês de Sade, fonte de classificação médica mas motivo de escândalo duradouro. A sua biografia prova todavia que o avanço do pensamento científico não se deve menos à imaginação dos poetas do que à investigação em laboratório. Pois o que é difícil de resolver e ultrapassar não são tanto as dificuldades materiais mas antes as barreiras mentais. Saguenail, O acaso abolido .

120 dias que nunca acabam

Não sei bem o que escrever sobre a versão de Os 120 dias de Sodoma, de Milo Rau , mas preciso de o fazer. Preciso de parar o mundo por um instante para conseguir pensar melhor. Que coisa foi aquela que vi no teatro? O que aconteceu naquele palco? Que verdade terrível aqueles actores lançaram-me à cara com uma violência difícil de suportar? Como é que mexeram com os dedos pela minha parte de dentro? Como torceram a minha carne? A versão de Pasolini , tal como se diz a certa altura, é composta por figuras de luz. É cinema. No teatro, porém, os actores estão vivos, têm cheiro, transpiram e movem-se à nossa frente. A ficção veste pele humana. Jules Janin escreveu, em 1834, na Revue de Paris : «Não se iludam, o Marquês de Sade está por toda a parte, vive em todas as bibliotecas, numa prateleira misteriosa e tão oculta que sempre se descobre.» Se tivesse de resumir tudo numa frase, talvez escolhesse esta de Jules Janin. Quanto mais escondemos Sade nas prateleiras do fundo, mais ele se tor

Se o Marquês de Sade fosse jardineiro

Mas as flores que perfumam o ar de forma mais deliciosa, não como as outras quando passamos junto delas mas quando as calcamos e esmagamos, são três: a pimpinela, o tomilho-serpão e a hortelã. Devemos, pois, cultivar grandes canteiros destas flores, para as gozardes enquanto passeamos ou as calcamos. Francis Bacon, Dos jardins , 1625. Tradução de João Almeida e Maria Ramos.

A arte de sublinhar Macbeth, segundo Marquês de Sade

No Manual de Leitura de Macbeth , editado pelo  Teatro Nacional de São João , Rui Carvalho Homem escreve sobre a famosa “intemporalidade” de Shakespeare. Quer dizer, sobre a “capacidade de o texto shakespeariano nos propor um entendimento do mundo e do humano”, que atravessa o tempo e o espaço. Essa “intemporalidade”, continua Rui Carvalho Homem, é “encarada hoje com reserva (ou cepticismo)” pela crítica académica, em resultado do aparecimento de “novos contextualismos”. No entanto, é inegável que Shakespeare foi e continua a ser “fonte de ampla produção literária e artística”, e a sua influência “não encontra paralelo em qualquer outro corpus literário e dramático”. Shakespeare criou o mundo em sete dias. No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma. No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos E os restantes sentimentos - Que deu a Hamlet, a Júlio César, a António, a Cleópatra e a Ofélia, A Otelo e a outros, Para que fossem seus donos, eles e os seus