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A mostrar mensagens com a etiqueta Saguenail

Andar para trás (pas ta physique)

Na altura não anotei e agora corro o risco de me enganar. Quando encontrar o Saguenail, tenho de confirmar se a história é mesmo assim.  A situação é esta (estou a dormir ou acordada?): corro, corro, mas não consigo apanhar o autocarro. Lá vai ele, cheio de pressa e eu apeada. O que é que faço? Ora bem, segundo a lógica ou fico parada à espera do próximo ou vou indo para a paragem seguinte. Mas a patafísica (consciente? inconsciente? com ou sem apóstrofo? Tu não tens irmão e ele gosta de queijo . Sem dúvida!) diz que tenho outra hipótese muito mais interessante: ir para trás, para a paragem anterior. Os argumentos a favor desta inversão são claros: não me aborreço, apanho o autocarro mais cedo e mais vazio, e prego uma partida aos parâmetros de vida que nos impingem — o caminho nem sempre é em frente.

Uma espécie de emprego, uma escola ideal.

(...) Este mês de junho, a Cinemateca tem estado a passar os filmes da Regina Guimarães e do Saguenail: filmes que são só uma parte da prática deles de viverem ao mesmo tempo (ou de viverem o mesmo tempo) estes anos todos. Ora: estando no Porto, não pude ir a nenhuma sessão. (E a Regina não pôde vir conversar com a Odete, como faz todos os anos.) Mas vi que eles programaram, por entre os seus filmes, outros, de outras pessoas: filmes que conversam com os deles, que os provocaram. Acho que entretanto aprendi (também com eles, que programam filmes há anos e anos) que ver filmes, e vê-los como quem investiga um crime, é uma espécie de emprego: em que nos pagam em imagens e em faltas de ar. Por isso, quando penso em como seria a minha escola ideal (em que eu seria professor e aluno), só consigo pensar em algo deste género. Um lugar onde alguém (onde toda a gente) partilha (generosa, entusiasticamente) os seus amores, esperando que, ao partilhá-los, o entusiasmo por eles cresça: até não cab...

Uma máquina em movimento

Cristina Fernandes: Num possível alinhamento dos seus filmes, Regina Guimarães e Saguenail apontaram um bloco a que deram o nome de Casas Ruas Cidades . É uma das formas mais convidativas para entrar na obra destes dois cineastas. Tem qualquer coisa de passagem arquitectónica e, sem dúvida, sempre, de político, no sentido grego da palavra. A sequência marca o percurso destes dois extravagantes-livres que trabalham juntos e com cumplicidade há anos, principalmente no Porto. (...) Rui Manuel Amaral: (...) Quando penso na obra de Regina Guimarães e Saguenail ocorre-me justamente a imagem de uma máquina em movimento. Uma estranha máquina de filmar-escrever tomada por essa «espécie de febre». Com paragens em cada filme e em cada livro, mas paragens breves porque há sempre mais caminho a fazer. Uma máquina em «Movimento Perpétuo», para usar o título de um poema do Caderno do Regresso (2010). E aqui retomo a ideia do jogo de espelhos entre cinema e poesia. A máquina Regina-Saguenail n...

Regina e Saguenail

— Tenho um bocado de medo de me ver ao espelho , sempre tive. Ao mesmo tempo, fascinam-me os fenómenos especulares, nomeadamente as montras das lojas. Gosto dos espelhos quando eles nos devolvem sombras, quando nos devolvem presenças fantasmáticas – que é o que nós somos e nas montras se expressa perfeitamente.  — O pai do meu padrasto, isto é, o segundo marido da minha mãe, era um “poeta menor” do movimento surrealista, mas fez-me conhecer a poesia dos maiores. Conhecer e apreciar. E depois encontrei a Regina. Por isso, a poesia é, direta ou indiretamente, a nossa única, verdadeira, safa, inclusive porque há outra safa mais acessível, que é o humor, e a poesia não é nada incompatível com o humor.

Saguenail e Regina

Os filmes de Saguenail são marcados por um forte experimentalismo formal, todos eles tratados preciosos sobre a possibilidade e o limite da “linguagem” cinematográfica – são filmes que perguntam o que é e o que pode essa linguagem.  (...) não sendo objetos diarísticos, os seus filmes estão ligados ao seu corpo, à sua presença e passagem pelos lugares, aos seus encontros, respondem-lhes, de um modo explosivo (explodem com as formas convencionais). Fazem na prática o que Regina defende quando escreve ou fala sobre cinema: reclamam um espaço para o rascunho na criação cinematográfica.

A imaginação dos poetas

O prazer sexual só foi objecto de uma experimentação e de uma descrição sistemática com o Marquês de Sade, fonte de classificação médica mas motivo de escândalo duradouro. A sua biografia prova todavia que o avanço do pensamento científico não se deve menos à imaginação dos poetas do que à investigação em laboratório. Pois o que é difícil de resolver e ultrapassar não são tanto as dificuldades materiais mas antes as barreiras mentais. Saguenail, O acaso abolido .