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A mostrar mensagens com a etiqueta Marlene Monteiro Freitas

Não são dali

Uma plateia de múmias a olhar para um palco cheio de pessoas vivas. É o que sinto quando vejo as peças de Lia Rodrigues e Marlene Monteiro Freitas. Aquelas peças não são dali; são da rua, das praças e dos bosques, deste e de outro tempo, deste e do outro mundo. Dali, dos teatros com talha dourada, das cadeiras de veludo, dos palcos fechados, é que elas não são.

Fúria

O que mais impressiona numa obra como Fúria , de Lia Rodrigues (ou Bacantes , de Marlene Monteiro Freitas), é a distância que se abre entre o palco e a plateia. É um imenso abismo. Que força diabólica nos prende à cadeira e nos impede de nos juntarmos aos bailarinos? Que força intolerável nos impede de levantar e exigir também a natureza, o nosso corpo e alma de volta? Que pudor é este, que educação é esta, que nos força a assistir, sentados, confortáveis, bem-comportados, ao que se passa no palco do mundo? Um dia após outro, sem nos mexermos, sem abrirmos a boca. O que nos impede de saltar para o palco e participar do mundo? O que que nos prende à cadeira? Esta nossa incapacidade de derrubar o muro entre a magia e a civilização de plástico em que vivemos (Artaud, outra vez) é a verdadeira violência denunciada por este espectáculo. Não participar, não erguer a voz, não saltar para a roda, e aceitar sem luta este mundo que nos propõem, é a maior das violências. Levantar o traseiro no f...

Bacantes

Bacantes - Prelúdio para uma purga , de Marlene Monteiro Freitas, é uma obra bela e complexa, povoada de pormenores, truques e dispositivos curiosíssimos, que revelam uma inteligência e sensibilidade raras. A escolha da grande peça de Eurípides (representada pela primeira vez por volta de 406 a. C.) não é inocente: As Bacantes retratam as origens do culto de Dióniso, cujo ritual era acompanhado de dança frenética até um estado de exaltação mística - a loucura sagrada - alcançada pelo esgotamento físico. Começar pelo princípio A peça de Eurípides, As Bacantes , centra-se no mito do rei de Tebas, Penteu, que se recusa a venerar Diónisos e que, em consequência disso, é castigado pelo deus da forma mais cruel e trágica: o rei é morto pela própria mãe, Agave, enquanto esta se acha tomada pelo delírio báquico, durante as celebrações dos rituais dionisíacos. As Dionísias eram festas em honra de Diónisos, também conhecido por Baco ou Brómio, deus da fertilidade e do vinho, potencial cau...