Só me apercebi do valor e consistência da obra hoje. Vinha no 305 a observar o movimento da cidade. Ao subir Sá da Bandeira vi melhor o quarteirão da antiga Casa Forte; quer dizer, vi pela primeira vez, de modo inabitual, a fachada do edifício antigo suportada por uma composição de vigas de aço corten — para além destas linhas, um buraco a céu aberto. O efeito é poderoso. Talvez seja por causa do contraste entre os três elementos: a fachada vulgar, esburacada, delgada; a geometria e solidez das vigas; o enorme espaço interior desfeito e vazio. Ou a localização, tudo aquilo apertado por uma malha urbana densa. Sem respirar. De dia nem precisa de iluminação, está ali para quem quiser ver. Monumento aos fundos imobiliários. Autor desconhecido.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral