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Andar para trás (pas ta physique)

Na altura não anotei e agora corro o risco de me enganar. Quando encontrar o Saguenail, tenho de confirmar se a história é mesmo assim.  A situação é esta (estou a dormir ou acordada?): corro, corro, mas não consigo apanhar o autocarro. Lá vai ele, cheio de pressa e eu apeada. O que é que faço? Ora bem, segundo a lógica ou fico parada à espera do próximo ou vou indo para a paragem seguinte. Mas a patafísica (consciente? inconsciente? com ou sem apóstrofo? Tu não tens irmão e ele gosta de queijo . Sem dúvida!) diz que tenho outra hipótese muito mais interessante: ir para trás, para a paragem anterior. Os argumentos a favor desta inversão são claros: não me aborreço, apanho o autocarro mais cedo e mais vazio, e prego uma partida aos parâmetros de vida que nos impingem — o caminho nem sempre é em frente.

Lugares sentados

Não há lugares sentados no autocarro. Alguns passageiros viajam de pé. Um homem sentado começa a falar com outro. A conversa fiada das redes sociais, dos tablóides e da televisão: os «corruptos», os «ladrões», o «país a saque». Estão ambos animados, confortáveis, a flutuar na temperatura amena do ar condicionado. Os passageiros sentados em frente esticam as pernas, cruzam os braços e concordam: a «ladroagem» assim, os «gatunos» assado. Os que viajam de pé não falam. Agarram-se com força aos ferros; receiam uma travagem brusca ou uma rápida mudança de direcção.

Abrir os olhos

Ainda está por estudar a importância dos autocarros na politização das senhoras da limpeza. É aí que estas mulheres se encontram e conversam sobre as suas condições de trabalho, comparam ordenados, discutem a legislação laboral. É um movimento espontâneo, dura o tempo de uma viagem, não tem a força dos sindicatos, mas é um princípio e uma vontade contra a exploração. Como elas dizem, serve para abrir os olhos.

Exorcismo exemplar

O autocarro inteiro atento à conversa das duas enfermeiras. A mais velha contou o caso do homem que enfiou um picador de gelo no ouvido para afastar os demónios. Correu bem. O otorrino retirou o objecto — vinte centímetros — sem danos. O homem deixou os demónios no hospital.