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Othon, de Huillet-Straub

O que há de mais sólido no mundo são as palavras. Creio que também é isso que Othon prova. As palavras são feitas de um material próprio, cujo segredo os próprios físicos ignoram. Os carros continuarão a circular em Roma até serem substituídos por outra coisa qualquer. Os regimes cairão em silêncio ou com estrondo, e outros surgirão em seu lugar. O tempo continuará a produzir ruínas. Mas aqueles personagens permanecerão ali, onde sempre estiveram, a dizer aquelas palavras, até não restar mais nada.

Exercício de tradução

Othon é um filme violento . Não só são violentas as tramas que se urdem no império romano pela luta pelo poder — quem irá suceder a Galba? — mas toda a forma como Danièle Huillet e Jean-Marie Straub levantam o texto de Corneille .   Filmar ao ar livre, nos montes Capitólio e Palatino em Roma, cenas que são de gabinetes e corredores onde é normal esconder as intenções ou até mudá-las em função das oportunidades do momento é, talvez, o primeiro acto arrojado. Ameaças, traições, cinismo, casamentos de conveniência, todas essas intrigas que descrevem o comportamento de uma classe dirigente apodrecida na sua imponente ambição, vistas assim, ao sol e ao vento, entre a vegetação, as pedras e as fontes, sobranceiras ao ruído do trânsito da cidade, parecem-nos mais reais e mais aflitivas e também mais intoleráveis — não há escuridão para esconder o gesto vil nem veludos para abafar o som das palavras hipócritas.  E se essa determinação abre a urgência do filme, tudo o que se segue investe ain