Bicho ruim

Na parede da casa de banho do Pipa Velha, entre ditos e convites mais ou menos óbvios e vulgares, há uma frase que prende a atenção: «Um violino para ti. Meu estupor!»

Depois do trabalho, já se pode ler umas linhas num café ou numa esplanada. Ontem, antes da luz começar a morrer, misturei Julio Ramón Ribeyro, um fino e os Suicide. Foi no Candelabro.

Um tipo num café, ao fim de tarde, a ler um livro e a beber vinho. Um dinossauro.

Gostava de ser como aqueles cafés de bairro que têm uma esplanada no interior . Quer dizer, gostava de ter um espaço exterior dentro de mim. Deve ser isso a fé.

Desço as escadas do Metro com o pequeno livro de Pascal no saco.  Sinto-me uma personagem de Rohmer, pronta para discussões filosóficas (suaves) à mesa do café.

Ao fim de três ou quatro meses — já perdi a conta —, sento-me, de novo, num café. Agarro-me à mesa e ao copo de cerveja como um náufrago se agarra à tábua de um navio.