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Pequena crónica de costumes

Ontem fintei o hábito e vesti uma blusa às florzinhas. Mesmo assim não consegui bater a elegância das personagens d' O Joelho de Claire (deve ser influência do lago de Annecy). Enquanto bebia o café junto às escadas de Ricardo Jorge, vi uma mulher a sair do bingo com um vestido de padrão vichy azul — parecia uma das clientes habituais do Trindade antigo; tinha pinta para o filme de Rohmer mas trocou o cinema pelo jogo.  Para A Coleccionadora , levo a t-shirt da praia.

Manchas de tinta

Dava para fazer um desfile com as roupas que aparecem em L’ amour l’après-midi : as camisolas de gola alta de Frédéric, a camisa axadrezada que a empregada o convence a comprar (fica-lhe bem), os jeans e os variados casacos de Chloé, o vestidinho burguês de Hélène, o casaco verde de Martine, o fato azul claro que Chloé veste para impressionar Frédéric ou os vestidos camiseiros que experimenta na loja onde trabalha, os conjuntos das mulheres que se cruzam com Frédéric na rua ou no sonho, etc., etc..  Eric Rohmer preocupa-se tanto com o guarda-roupa (percebe-se bem o título do texto que ele escreveu sobre O Rio , de Jean Renoir) que acrescenta pequenos defeitos na roupa de Chloé: o casaco vermelho forrado a pelo descosido no ombro direito e umas manchas de tinta na perna esquerda dos jeans desbotados. Quase não se vêem, mas parece que é aí, mesmo à superfície, que se esconde o segredo inefável de Chloé (ou de Zouzou, vá-se lá saber).