Em rigor e ao contrário do que apregoa, o mercado é preguiçoso e não se ajusta aos nossos desejos mais profundos. Há por aí tantos dispositivos tecnológicos que não servem para nada e outros, que nos fazem uma falta tremenda, ainda não existem. Neste momento — posso afirmá-lo com absoluta certeza — é urgente a invenção de um detector de arte contemporânea. Já pensei no assunto e tenho uma ideia para o protótipo: deve ser um objecto portátil e discreto feito de material nobre (titánio ou zircónio são boas hipóteses), com um olho a meio como os ciclopes e um rasgão por onde sai uma tira de papel, semelhante às mensagens dos bolinhos de sorte chineses, com o veredicto. O procedimento é fácil. Exemplo um: vamos pela rua fora, encontramos um volume indefinido debaixo duma arcada, apontamos o detector e, se for uma obra de arte, paramos para observar e tecer alguns comentários elevados. Se for um tipo que está para ali a dormir, “é a vida” e seguimos caminho. Exemplo dois: deparamos
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral