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Isso é verdade!

Ainda não há muito tempo - uma dezena de anos - que um tio meu me recitava de cor, na beira-serra do Algarve, trechos inteiros da História de Carlos Magno e dos Doze Pares de França . Eu lia, em rapaz, a camponeses da minha terra, romances de Júlio Dinis e de Camilo. E era vê-los participar na acção, falucando, perguntando, comentando. Guardo muito viva a lembrança da leitura de Amor de Perdição . Era uma comoção que se não continha. O meu padrinho Martins Farias, poeta afamado do lugar, sempre pronto a chalacear com o que havia de irreal nas situações, exclamava com os olhos afogados em lágrimas: - Isso agora é verdade! Isso é verdade! Mário Viegas Guerreiro,  Para a História da Literatura Popular Portuguesa .

Sarajevo VI

Últimos momentos em Sarajevo. Apanhamos um táxi para a central de autocarros. Num semáforo, o taxista aponta para um edifício moderno e feioso com uma cruz no telhado. É uma igreja católica erigida depois da guerra e que permaneceu inacabada durante anos por falta de dinheiro. A obra só foi concluída, diz o taxista, graças à ajuda de um muçulmano rico da cidade. Faz uma pausa e acrescenta: «Isto é a Bósnia.» Não sei se o taxista inventou a história. E se inventou, não sei se o fez por nós ou por ele. É uma bela história. Agradeço que a tenha contado. Tal como se inventam histórias para justificar a guerra, também se criam outras para construir a paz.