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E de nós, o que faremos?

É nos transportes públicos que se vê melhor o quanto as mulheres portuguesas mudaram desde o 25 de abril. Vê-se na forma arejada como se vestem e falam umas com as outras ou com os homens; como andam de cabeça erguida; como sabem que ainda estão no princípio.  As mulheres das classes mais ricas ficam de fora do retrato porque não andam em transportes públicos. Como são conservadoras, suspeito que não mudaram assim tanto.

Pára-arranca

Uma semana de trabalho presencial no escritório. Os meus colegas queixam-se do trânsito. Dizem que nunca viram tantos carros na rua. Demoram horas para percorrer três ou quatro quilómetros entre a casa e o escritório. São vegetarianos, veganos, activistas ambientais no instagram, praticam a reciclagem, fazem caminhadas organizadas no campo ao fim-de-semana, sofrem de eco-ansiedade. Quando vão a Berlim, Londres ou Marijampolė andam de metro, comboio e autocarro, e fazem selfies nas estações e paragens. Mas para os meus colegas não existe nem nunca existiu transporte público no Porto. Alguns talvez já tenham ouvido falar. Para a maioria, porém, transporte público é qualquer coisa do domínio da fábula. Tão distante como um lugar de estacionamento disponível em hora de ponta.