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Até a Roménia

Quando Portugal se indigna porque "até a Roménia" o vai ultrapassar economicamente, esquece-se de que haverá um país qualquer que se indigna porque "até Portugal" o vai ultrapassar economicamente. Não há nada mais triste do que o orgulho dos mesquinhos. Pedro Ludgero. Mesquinhez, sim. E uma dose doida de sobranceria que resulta da nossa profunda, desgraçada e periférica ignorância.

Mais depressa, mais depressa

O contrato prevê um horário flexível, em que o trabalhador é convocado de véspera. Da mesma forma, pode ser dispensado, se a mensagem pretendida pelo patrão for de penalização ou intimidação. Além de tudo isto, aquilo que mais perturba alguns dos manifestantes do dia 11 de Fevereiro, em frente à própria empresa, é “a permanente pressão psicológica”. “Querem que a gente ande cada vez mais depressa, a colher as bagas com movimentos dos braços sem parar. Estão em cima de nós, a gritar: ‘Mais depressa, mais depressa’”, diz Robin Thapa, também nepalês, disposto a protestar. “É muito duro. Estamos a trabalhar num ambiente quente, dentro das estufas, e só podemos beber a água que trazemos de casa. Às vezes por mais de oito ou 10 horas”, diz Pramila. “Se bebemos toda a que trazemos, pedimos, mas eles não nos dão, recusam. Se protestamos, chegam a mandar-nos para casa”, salienta Pramila. “A pressão psicológica faz-nos mal.” Quem não cumpre o objectivo de encher um determinado número de caixas n...

O ódio tocou à campainha

O ódio tocou à campainha e nós abrimos a porta. Não precisou de esperar muito. Nós ouvimos bem. Temos uns ouvidos sensíveis. Bastou tocar uma vez. Estávamos à sua espera. Há muito que o esperávamos. Há mais de quarenta anos. Há séculos e séculos. Estamos sempre à sua espera. Nós gostamos do ódio. Gostamos que se sente à nossa mesa, que beba um cafézinho, um digestivo. Ou, se preferir, uma cervejinha e um pratinho de tremoços. Gostamos muito de o ouvir falar. Se não fosse o ódio, quem teria «a coragem de dizer as verdades»? O ódio «não tem medo das palavras». O ódio «fala claro para as pessoas lá em casa compreenderem». O ódio é «justo», o ódio é «bom». Foi ao ódio que «Deus atribuiu a missão de mudar Portugal». O ódio vai salvar-nos. Se não odiarmos, o que nos resta? Odiar-nos a nós mesmos?