Quando o [José] Craveirinha foi julgado em tribunal militar, tribunal de excepção, acusado de antiportuguesismo — porque ele era suspeito de querer a independência [de Moçambique] —, eu fui lá como testemunha abonatória. Era amigo do Craveirinha há muitos anos e, perante o juiz militar, que era um indivíduo convicta e seriamente aderente do Estado Novo (não era um oportunista, acreditava mesmo naquilo), eu disse esta coisa muito simples: “Oiça, não convém confundir o desejo de uma alteração político-administrativa num território com antiportuguesismo, porque, se vocês repararem, há pouca gente que goste tanto da língua portuguesa quase sensualmente como o Craveirinha. Um indivíduo destes não pode ser antiportuguês. Pode ser contra o regime que nos governa, mas isso não tem nada que ver com Portugal.” O juiz militar ouviu com muita atenção o que eu lhe disse — antes de dar a sentença, uma pessoa minha amiga viu-o na igreja com ar de grande angústia — e depois foi um dos que votou pela a
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral