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Resta ainda uma alegria

Os jornalistas adoram emitir juízos morais e ainda fazem títulos deste género sobre os habituais-aborrecidos estudos de mercado: Portugueses usam alívio no IVA para reforçar a cesta com cerveja e marisco .  Não percebem que o que escrevem apenas revela o seu espírito tacanho e cangueiro. Em contrapartida, o que as pessoas fazem sempre é festejar. Mesmo sem as saberem, seguem as palavras de Hölderlin, e isso não é coisa pouca: « Es bleibt uns überall noch eine Freude. Der echte Schmerz begeistert. Wer auf sein Elend tritt, steht höher ...»
Quando estamos a ver o filme já nos apercebemos disso, não passa ainda de uma coisa fraca, como se os nossos olhos fossem os de Agnès Varda captando imagens desfocadas e com significados indefinidos. Na verdade, a alegria que Varda e JR levam aos "lugares" por onde passam e aos rostos das pessoas está ligado a uma tristeza que é própria da fotografia e da morte (a palavra mais adequada é "nostalgia" trazendo consigo o rasto de viagem e dor, a falta de algo), uma tristeza que se vai prolongar mais no tempo, fora da sala de cinema. "Olhares lugares" é ao mesmo tempo essa viagem literalmente a bordo de uma carrinha mascarada de máquina fotográfica e a tentativa de encontrar qualquer coisa que falta num lugar e vencer essa falha: os mineiros que já morreram, as mulheres dos estivadores de corpo inteiro nos contendores empilhados, uma cabra com cornos porque é da natureza das cabras terem cornos, a rapariga com a sombrinha, os peixes numa cisterna, os pés de...