Na universidade começara a desconfiar de embelezamentos literários convencionais, cansado, por exemplo, daquilo a que eu chamava tripla descrição literata : “Todd sentou-se à mesa preta, a superfície de ébano, a escura portadora de vários copos e pratos, cujas presenças alvas, circulares, em forma de disco, troçavam da sua futilidade, da sua impotência, da sua incapacidade para agir.”  Porra, achava eu, que tal dizeres apenas: “O Todd sentou-se à mesa.”  Ou melhor, corta essa parte também. Porque é que precisamos de saber que o Todd se sentou à mesa? Avisem-me só quando o Todd fizer alguma coisa. E é bom que não seja “erguer uma chávena até aos seus lábios”, nem “pausar pensativamente para deixar que a percepção de Randy o iluminasse por completo”.  Na altura andava um bocado carrancudo, em termos de prosa.   George Saunders, na Nota de Autor de “Guerracivilândia em Mau Declínio” .   Tradução de Rogério Casanova para a Antígona. Janeiro de 2019. Páginas 207 e 208.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral