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Sentir-se satisfeito

Em O Vestido Vermelho , de Stig Dagerman, um personagem descreve desta maneira o ramerrame de uma vida vazia, mole, pobre e mesquinha: Que é que julgas que significa viver, para ele? Nada mais que levantar-se de manhã, ler um jornal, tomar uma chávena de café, ir para a oficina, consertar uma mesa, voltar para casa, jantar, dormitar, escutar a telefonia, ir ao W.C., contar uma história das porcas, de preferência, sair, ir ao cinema, ir para a cama ou para o café, ver um filme, despir uma mulher ou beber uma cerveja, voltar para casa, despir-se, ressonar, acordar, tomar uma chávena de café, ler um jornal e ir para o trabalho. O pior ainda não é supor que viver seja isto, o pior numa vida destas é ele sentir-se satisfeito. O livro é de 1948. Hoje, parece a vida preenchida e sofisticada de um «intelectual» mais ou menos boémio, e que trabalha numa oficina para pagar as contas.

O vestido vermelho

Leio O Vestido Vermelho , do Dagerman, pela primeira vez. Há muito que tenho o livro na estante (tradução maravilhosa de Irene Lisboa, Estúdios Cor, 1958), mas por uma razão ou outra fui adiando a leitura. Não, não foi por uma razão ou outra. Sei muito bem porque adiei este encontro. É um livro perfeito, terrível. Metade papel, metade espelho. Mete medo.

O modesto papel de minhoca

Enquanto anarquista (e pessimista, uma vez que tenho consciência de que a sua contribuição pode ter apenas um valor simbólico), o escritor pode, entretanto, atribuir-se em boa consciência o modesto papel de minhoca na terra da cultura. Caso contrário, secará na aridez das convenções. Ser o político do impossível num mundo onde são muitos os políticos do possível é, apesar de tudo, um papel que me satisfaz como ser social (...). Stig Dagerman, A Política do Impossível . Tradução de Flávio Quintale.