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Fábrica de santos

Os santos criaram um espaço social particular, uma «junção» entre o mundo terreno e o divino. Em larga medida, este espaço social nasceu dos desejos e esforços dos seus devotos, embora mais tarde a Igreja tenha estabelecido um eficaz processo de produção de celebridade, ao qual George Minois designou como «fábrica de santos». Mosteiros, ordens religiosas, aldeias e cidades, todos competiram na criação dos «seus próprios», e as autoridades eclesiásticas tiveram de impor entraves ao processo de canonização para controlar a «inflação de santidade», gerando assim tensão entre os santos populares e os oficiais. Os últimos eram preferidos pelas autoridades eclesiásticas como modelos de virtude e submissão, exemplos de uma vida cristã imaculada. Contudo, o povo preferia personagens excêntricas e profundamente individualistas, com poderes espectaculares e miraculosos, ou figuras consideradas bons membros da comunidade e capazes de curar. Revolucionários e figuras como Robin dos Bosque...

“O mundo engendra-se no delírio, fora do qual tudo é quimera.”

É a primeira vez que traduzo um livro de uma ponta à outra (nunca cheguei a terminar os “Postes de Ângulo”). Assumi o título quase literalmente a atirei-me ao trabalho como uma missão. Demorei mais ou menos um mês a  traduzir as cento e tal páginas folgadas de “Lágrimas e Santos” (versão impressa no formato 11X17 cm). Uma ou duas horas por dia, de segunda a sexta, como se fosse um emprego em part-time. Agora vou passar mais de três meses a substituir as palavras, alterar a ordem. É um biscate, mas parece uma guerra — vamos a ver o que sobra.

Corrida de obstáculos

Para ocupar cinquenta por cento do meu tempo de trabalho — agora e possivelmente até ao fim do ano — livre, pensei traduzir as Lágrimas e Santos do Cioran de uma ponta à outra. Decidi continuar a ler Dostoiévski para aquecimento e preparação, como se fosse uma prova de atletismo. Os Irmãos Karamázov estão a revelar-se uma verdadeira musa, quero dizer, tusa, não, púsia, púsia — assim é que é.

Mais lágrimas

"Em todo autor existe" escreve Sanda Stolojan, "uma imagem-chave que responde a uma obsessão profunda e reveladora. Assim é a imagem das lágrimas e do seu corolário, o pranto, ao longo da obra de Cioran ... Em "Lágrimas e Santos" , ele prevê o dia em que se arrependerá, em que ficará envergonhado, por ter amado tanto os santos e "o misticismo, essa sensualidade transcendente". Ele separar-se-á dos santos, das suas efusões, mas o adeus ao lirismo não apagará em si a imagem e o pensamento que o obcecam "