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A mostrar mensagens com a etiqueta James Joyce
François Bondy: Como é que conseguiu este apartamento no sexto andar, com esta vista magnífica sobre os telhados do Quartier Latin? Emil Cioran: Graças ao snobismo literário. Já há muito tempo que estava farto do meu quarto de hotel na rua Racine e pedi a uma agente imobiliária que me procurasse qualquer coisa, mas ela não me mostrou nada. Então enviei-lhe um livro que acabara de publicar, com uma dedicatória. Dois dias depois trouxe-me aqui, onde a renda — acredite ou não — é de cerca de cem francos, o que corresponde aos meus meios de subsistência. Com as dedicatórias de autor é assim. A sessão de autógrafos na Gallimard, sempre que um livro é publicado, é uma coisa que me aborrece e uma vez esqueci-me de assinar metade dos livros. Nunca tive tantas críticas más. É um rito e uma obrigação. Nem Beckett pode escapar a isso. Joyce nunca o conseguiu entender. Disseram-lhe que em Paris um crítico espera sempre uma carta de agradecimento do autor quando diz bem dele. Uma vez ele concor

Conheces o conto “Os Mortos” de Joyce?

É uma pena “O Hábito de Ser: Cartas de Flannery O’Connor” não estar traduzido para português. Ela também é muito boa a escrever cartas. Mais um excerto, desta vez de uma carta escrita a Ben Griffith a 6 de agosto de 1955: (...) Quando li o teu conto pensei logo em dois outros contos que acho que deves ler antes de começares a reescrever. Um é “O Lamento” de Tchékhov e o outro “Guerra” de Luigi Pirandello. (...) O teu conto, como esses dois, é essencialmente a apresentação de uma situação patética e quando apresentas uma situação patética tens de a deixar falar por si mesma. Quero dizer que deves apresentá-la e largá-la. Tens de deixar as coisas na história tomar a palavra. Como autor, não deves forçar a situação e parece-me que no teu conto tendes a fazer isso de vez em quando. (...) Deixa o velho seguir o seu caminho sem os teus comentários e deixa as coisas que ele vê criar os efeitos patéticos. Conheces o conto “Os Mortos” de Joyce? Repara como ele faz a neve funcionar  na h

Influenciadores do século XX

Inauguração d’Ulisses

A senhora estava muito entusiasmada porque o “Ulisses” era novo. Disse qualquer coisa do género “que bom, vou inaugurar o livro”. Decorei o verbo porque achei um bocado estranho usá-lo em relação a um livro, mesmo tratando-se de um livro de biblioteca. Se os outros dois que requisitou também eram para ela, desconfio que a inauguração vai ser uma grande festa.

A história como pesadelo

- History, Stephen said, is a nightmare from which I am trying to awake. Lembrei-me do comentário de Stephen Dedalus, no  Ulisses , a propósito do texto de Jorge Almeida Fernandes, no Público de ontem: Jaroslaw Kaczynski concebe a política como “guerra civil permanente”. Regressado ao poder, relançou a guerra ideológica de 2005-2007, elegendo a História como campo de batalha. A Polónia tem uma história trágica. E o PiS sabe usá-la. A História serve para “fazer a guerra” e nomear inimigos, presentes e passados. Serve também para fornecer uma legitimação ao regime e para neutralizar a oposição. “A História é a nova religião”, diz ao Politico.eu um deputado conservador. A “Polónia heróica” é inseparável da “Polónia mártir” e deve ser uma “Polónia sem mácula”. Por isso se impõe reescrever a História.