Primeira sequência de Fairytale . Jesus e Estaline repousam lado a lado, num canto do purgatório. Estaline deitado no meio de uma montanha de rosas, Jesus num catre de pau tosco. Ambos aguardam que Deus decida o destino de cada um. O ditador levanta-se e caminha, mas o Salvador, de ar débil e abatido, não consegue mexer-se. «Dói-me tudo», diz ele, numa voz abafada de tísico. O filho de Deus Pai, de Aleksandr Sokurov, parece tirado a papel químico do Jesus imaginado por Oscar Panizza, o personagem mais triste e patético de O Concílio do Amor. JESUS (estremecendo) Pois é — e com isso, nós é que vamos ficando cada vez mais miseráveis, cada vez mais fracos! Que coisa horrível! (Tosse.) A mim comem-me, e assim se vêem livres da doença e do pecado! Ao passo que nós caminhamos progressivamente para o declínio. Começam, primeiro, por se encherem de pecados até mais não poder, e a seguir ingerem a minha carne e ficam curados, inocentes, gordos e anafados — enquanto nós para aqui estamos magros
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral