Tenho andado a pensar no que a deputada do PSD disse na noite das eleições: o que falhou foi o povo português . Há uma classe social que tem dificuldade em se expressar (isso implica que também tem dificuldade em pensar — adiante), acho que o raciocínio completo subjacente à frase de Isabel Meireles é: o que falhou foi o povo português não ter feito o que nós lhe dissemos que era o melhor para ele . O que falhou, o que falhou tremendamente foi ele (ah, o povo português transformado em ele por oposição ao eterno poderoso eles , a medir forças pronominais) pensar e agir pela sua própria cabeça — que pode muito bem ser o princípio de uma definição escorreita de democracia. A frase ganha ainda outras ressonâncias contrárias, pois não só o povo não falhou como não faltou . Quando menos se espera, mesmo não seguindo os nossos desejos, aí está ele: o povo.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral