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Sinfonia de uma pequena cidade

Obras na avenida Fernão Magalhães (sul). Obras no prédio ao lado (traseiras, norte). Obras no apartamento em frente (a toda a volta). No segundo andar, o médico toca piano (escadas).

Obras

Os tipos das obras escreveram “FIM” no cimento junto à porta do edifício onde vivo. A palavra — letras maiúsculas, vermelho sangue de boi — ocupa mais ou menos dez por dois centímetros. Vai desaparecer quando fizerem o novo piso de alcatrão. Classificação: ao nível das melhores obras efémeras de Banksy. Ofusca os monstrengos da Joana Vasconcelos.

Obras para quê?

Vale Formoso, Antero de Quental, Largo da Lapa, Regeneração. A Utopia já reabriu, mas não há livros novos na montra. Aceno a um Herculano mascarado. Ele devolve o cumprimento. Há um vidro entre nós. Praça da República. Alguém escreveu sobre um aviso camarário de obras a frase «Obras para quê?» A interrogação, neste momento, parece ser válida para tudo: arte, literatura e construção civil. Rua do Almada, Ricardo Jorge, Largo do Mompilher. As sapatilhas estão velhas e fazem-me doer os pés. Rua da Conceição, Mártires da Liberdade. A Académica continua fechada. Praça da República, Rua da Lapa. A velha caixa de esmolas da Capela do Senhor do Olho Vivo foi assaltada. Tentaram arrancar a caixa da parede, mas as moedas não saíram do sítio. Antero de Quental, Vale Formoso. A tinta verde da porta da rua está a descascar. Há ferrugem na fechadura. Dores nas pernas e nas costas.