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Cinema «experimental»

«Ford foi temerário e na velhice atreveu-se a ir mais longe do que nunca. Embora em termos de cinema «experimental», como diria Straub, se possa pensar em The Long Gray Line , que Straub menciona, ou em Two Rode Together ou Donovan’s Reef , julgo que o contraste tremendamente «monstruoso» de Cheyenne Autumn é a coisa mais radical que Ford fez. Aquilo que é mais sério, mais profundo, no filme é o grotesco. Depois da barbárie do texano a matar um índio pelo puro prazer de o fazer, pela curiosidade de saber o que se sente, a indiferença, a estupidez, dos habitantes de Dodge City (cidadãos de pleno direito, civis; Ford não teria sido tão cruel se fossem militares) é o comentário mais sombrio sobre as relações dos americanos com os índios que já vi no cinema. E o facto da cena ser uma palhaçada ainda torna os brancos mais idiotas e faz com que a sua monstruosidade seja muito mais dolorosa.»  Simetrias — os 5 actos nos filmes de John Ford, de Paulino Viota (página 29). (É a primeira ve...

Os velhos deviam ser exploradores

(...) Old men ought to be explorers Here or there does not matter We must be still and still moving Into another intensity For a further union, a deeper communion Through the dark cold and the empty desolation, The wave cry, the wind cry, the vast waters Of the petrel and the porpoise. In my end is my beginning. T.S.Eliot, Four Quartets, East Coker.

Two Rode Together (for Andy)

 

Juventude em marcha

Fico sempre espantada como é que homens tão velhos podem criar personagens tão jovens e bravias. Alicia Western é uma mulher improvável, mas é também, e sem contradição, extremamente verdadeira e apaixonante. (É da mesma têmpera da Karin de Saraband .) Dá a impressão que Cormac McCarthy guardou para o fim uma energia qualquer, uma forma diabólica de interpretar a fuga de Bach que, em português, talvez se possa traduzir por juventude em marcha.

Dein Alter sei wie deine Jugend

Concluí a terceira revisão, acho que já posso arrumar “Lágrimas e Santos”. Como vou continuar na retoma progressiva não sei de quê, resolvi atirar-me a outro livro. Gostava de prolongar a relação com o Cioran romeno, mas acabou de sair uma tradução de “Nos cumes do desespero” e não vale a pena andarmos todos a roer o mesmo osso. Se não pode ser o jovem, então que seja o velho. Traduzir os “Cadernos” que tem uma data de páginas (1008, nesta edição ) — é coisa para me acompanhar até ao fim.  29 de setembro de 1970 Há cerca de dez anos, quando me queixei a um médico da minha má digestão, ele disse-me: “Tem de comer com alegria. — Se pudesse comer com alegria, não tinha vindo consultá-lo”, foi a minha resposta. Se penso nesta história, é porque me veio à memória a propósito da visita que S. Beckett fez recentemente a Jean Ménétrier, um médico um tanto herético, que sem mais nem menos lhe perguntou: “Você é optimista? " Fazer esta pergunta ao autor de Fin de Partie ! Emil Cioran, Cad...

Lugar do Facho, Largo dos Pescadores.

Avançamos por ruas estreitas de paralelo no meio de campos — de um lado um monte de pneus, do outro florzinhas amarelas. Vamos de Lavra para Vila Chã em segunda, às vezes o carro quase não passa. Não há nada de bonito em redor: moradias antigas de tinta escura e gasta, uma casa desenhada por arquitecto perdida, o mar muito perto, o cheiro a bosta. Tudo em desarmonia. Drogaria do Casal, café Paulinha, pichelaria Ismael. Ultrapassamos um tractor. Paramos junto à lota para fumar um cigarro. Há por ali uns homens que se vão embora passado um bocado. Ficamos sozinhos com dois gatos e a santa de manto azul e flores frescas dentro de uma caixa de vidro. Não percebo porque é que gosto cada vez mais deste tipo de paisagens. Deve ser o envelhecimento.