Os filmes de Jacques Tati são documentos antropológicos que mostram o aspecto ridículo e risível da nossa Grande Época . Passado um tempo nem é preciso estar a vê-los para rirmos; é fácil — oh, tão fácil — encontrar à nossa volta réplicas desses gags . Geralmente é na rua que se apanham: prédios sofisticados ao lado de baldios, moradias modernaças, sons cómicos que se repetem, pequenas frases alfinetadas — às vezes até basta um cão rafeiro a correr ou um miúdo que suja a cara com açúcar ao comer um bolo. Quando estava a subir as escadas, com as minhas sapatilhas cambadas, para o Pap’açorda, percebi que não se tratava de um jantar de cerimónia, mas da hipótese (talvez única na minha vida) de entrar, nem que fosse só de raspão, na cena do restaurante de Playtime . A porta tinha vidro e nenhuns sinais de obras por terminar, mas o chefe de sala com o seu ar de segurança elegante, vestido de escuro, era um bom indício. Lá dentro o ambiente coincidia; não sei definir muito bem, qua...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral