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Os quadros de camponeses (casamentos, danças e banquetes, pausas no trabalho para comer e descansar um pouco,...) de Pieter Bruegel, o Velho parecem saídos de um filme de Renoir. Talvez  Elena e os Homens.

A última cena

Quando as raparigas invadem a sala do Moulin Rouge para dançar (assim como A Regra do Jogo prevê e antecipa a guerra, French Cancan festeja desvairadamente o fim da guerra, que alegria tão distante, ai de nós!), Danglard fica nos bastidores a ouvir a musica à distância, sozinho.   Bom, sozinho até me lembrar de Straub no fim de Onde jaz o teu sorriso?

Un hermano de Jean Renoir

Creio que foi no último jantar na cantina do Centro de Negócios do Fundão, em conversa com a Carlota e o Rodrigo, queixei-me um bocado do lado sorumbático do cinema e disse que precisávamos de mais tipos como Jean Renoir — com um olhar amplo e alegria luminosa.  Agora que comecei a ler La Família del Cine , dou-me conta que Paulino é um desses homens. Apesar de ter sido obrigado a desistir de filmar por falta de apoios, encontrou um desvio e exerce, desde os anos oitenta, a sua actividade cinematográfica no ensino e na crítica sem rancores e com uma inteligência imensa e bem humorada. Para além de contemporâneo de Griffith, Paulino Viota é um irmão de Jean Renoir.

Una salida al campo

A influência de Rohmer em Têm de vir vê-la é visível e, acho que o posso dizer, assumida: homens e mulheres a conversarem sobre isto e aquilo, a cidade e o campo, os gestos vulgares do dia a dia, e até o livro de um filósofo; tudo isso confere o parentesco.  Mas, talvez porque não falam em francês, as personagens de Jonás Trueba são mais soltas, o que dizem é mais inconsequente ou fica a pairar.  Só no fim, quando Elena (maravilhosa Itsaso Arana) se afasta e se agacha para fazer chichi entre as ervas e desata a rir  — uma das cenas mais bonitas que vi nos últimos tempos no cinema —, percebi de onde vem esta doçura que se espalha pelo filme como um som ou uma dança. Ah!

A regra do jogo

Contaram-me que, durante a rodagem de A Regra do Jogo , nas vésperas da Guerra, Jean Renoir e a equipa tiveram de esperar quinze dias para filmar as cenas da caça. Durante esses quinze dias, de chuva ininterrupta, ficaram confinados perto do local das filmagens. A paragem mudou, de certa maneira, a vida de Renoir: o filme ultrapassou largamente o orçamento previsto, foi um fracasso comercial e o realizador endividou-se. O confinamento forçado da equipa em A Regra do Jogo transformou-se na pandemia particular de Jean Renoir. E entre as criaturas que tombaram na sequência da caça, também estava ele.

O vírus é a música

A progressão de um vírus implacável sobre fundo primaveril (folhas, flores, pássaros) Ah, isto é o que Jean Renoir dizia: "Por que raio é que, numa cena de amor em que o actor diz à actriz je t'aime a música também há-de dizer je t'aime ? Porque é que a música não diz estou-me nas tintas para ti?" O vírus é a música.
O que impressiona sempre em A Regra do Jogo é a balbúrdia. Claro que Jean Renoir filma a balbúrdia com a sua habitual delicadeza e aquilo que caminha a grandes passos para o descalabro transforma-se num bailado com tutus. Mas se isso é o que nos encanta uma e outra vez por causa do ritmo musical e de qualquer coisa que não tem nome, depois de vários confrontos começamos a pensar em outros pormenores, por exemplo: talvez o mais importante do filme seja a forma como Renoir assinala os defeitos (muitos) e as virtudes (poucas) de todas as classes sociais — uma espécie de tiro de partida para um pensamento político radical.