Num debate com estudantes e comunistas sobre o panfleto em verso «O PCI aos jovens!» onde Pasolini ataca os estudantes-meninos do papá, um desses estudantes, o segundo da transcrição incluída em Entrevistas Corsárias , faz uma intervenção estupenda. Começa por esclarecer que os estudantes não se vão enfurecer com Pasolini porque o poema foi desmentido pela história . Depois aconselha Pasolini a conhecer melhor os jovens de quem fala, indo às barricadas ou lendo algumas linhas — claras e úteis — dos clássicos: Lenine, Marx, Engels. Feitas as citações apropriadas, refere que em seguida têm de se levantar e ir embora porque são esperados na Apollon, uma fábrica ocupada. E saem. Imagino tudo isto num palco com marcações bem definidas. Também me entretenho a tentar adivinhar o percurso deste jovem das barricadas de 1968 até agora. O corvo marxista deve saber se ainda está vivo, se continua a apreciar a clareza dos clássicos e por aí fora. O tom — não podia ser outro — é de farsa.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral