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O mercado a funcionar

Na rua do Almada, mesmo em frente à Mala Voadora, há uma pequena loja de tralhas e eletrodomésticos. Na montra, quase encostados ao vidro, vi os seguintes objectos: um disco de fogão que cabe num A5, uma cafeteira para um café e até o que me pareceu ser uma máquina de café de cápsulas de bolso. Comecei por pensar que se destinavam a pessoas que vivem sozinhas, mas depois percebi que não era nada disso, estes objectos minúsculos são para as pessoas que vivem em espaços reduzidos, em quartos ou camas amontoadas em lojas ou garagens. A normalização começa assim, quando o mercado se adapta. E o mercado até gosta desta ideia de ocuparmos vivos o pequeno espaço que vamos ocupar mortos. E pagarmos muito por isso. Rende mais.

Escravos

Há um pequeno conto de Giorgio Manganelli que, filmado por Stéphane Brizé, podia ser uma versão alternativa, com ligeiras alterações, do seu mais recente filme, Um Outro Mundo . É o conto oitenta e um, de Centúria : Na cidade governada pela Princesa Sanguinária, todos os homens, uma vez ou outra, se apaixonam pela Princesa, e se apresentam na corte para pedi-la em casamento. Ela nunca diz que não, mas propõe ao homem que pretende casar com ela uma questão: por vezes é complicada, outras vezes é simples, exactamente uma pergunta de escola primária. Em todo o caso, o pretendente cometerá inevitavelmente um erro, talvez um erro irrelevante, mas que não escapará nunca à Princesa, e o pretendente será morto. No dia seguinte, apresentar-se-á um novo candidato, e não terá sorte diferente. Na realidade, a Princesa é mulher delicada, afectuosa, que nada de melhor desejaria que casar com um jovem sem nome nem fortuna, e abandonar aquela sua terrível função, já que se trata apenas de uma função q...

Exuberância irracional

No Público de hoje , o economista Ricardo Cabral escreve o seguinte: «No actual contexto pandémico e de “exuberância irracional” dos mercados, retirar estímulos e aumentar rapidamente as taxas de juro seria problemático.» O texto, como quase todos os que são escritos por economistas, está carregado de passagens similares. Normalmente, não perco muito tempo com este «género literário». Desta vez, porém, a frase fascina-me e preciso de a registar: a exuberância irracional dos mercados . É todo um programa. A economia é a nova religião, já o sabemos, e os economistas são os padres do nosso tempo: especialistas num mistério que não dominam, mas que procuram interpretar e transmitir aos fiéis. E quanto mais exuberantes e irracionais as interpretações, aparentemente mais «credíveis».