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Memória

Há vários meses que a falta de memória está na ordem do dia. Membros do governo não têm memória dos factos. O Presidente da República também não se lembra das mensagens. Não são os únicos. O país inteiro parece ter-se esquecido da noite escura onde está mergulhado grande parte do seu passado. E, se olharmos em volta, também o mundo parece ter perdido a «fita do tempo».

Um diálogo, em breve um cântico

(…)  tem a ver com o facto de cada comunidade, unidade humana ser um diálogo, ser um projecto, como dizia o Hölderlin, e Hölderlin já é um poeta para os tempos de indigência, para quem resolve escutá-lo, e Hölderlin diria que nós somos algo ao nascer do dia, nós somos um diálogo, mas em breve seremos um cântico. Nós nascemos como um diálogo ou seja, a capacidade da linguagem em nós é inata, nós estamos preparados para a linguagem e por isso a linguagem faz-nos e ao fazer-nos nada impede que aquilo que eu faço seja partilhável. E nesse aspecto, se nós existimos nesta dupla condição de esperados sobre esta terra e de preparados para uma linguagem, como diz o Benjamin, está encontrado o quadro para pensar a relação da poesia com o mundo da História.

Saída

A história não é circular, obviamente. Mas parece. Estamos convencidos de que avançamos, mas na verdade andamos às voltas. Exactamente como os personagens de La Mort en ce Jardin , de Buñuel. Por mais esforço que façamos para encontrar uma saída, voltamos sempre ao mesmo sítio. Outra imagem: leões às voltas numa jaula.

Census

A certa altura, o inquérito do Census pede uma resposta para a seguinte questão: «Usando a língua em que habitualmente se expressa, tem dificuldade em comunicar com os outros, por exemplo compreendê-los ou fazer-se entender por eles?» As opções são quatro: a) Não, nenhuma. b) Sim, alguma dificuldade. c) Sim, muita dificuldade. d) Não consigo compreender os outros ou fazer-me entender. Hesito. Não sei o que responder. Os técnicos do Instituto Nacional de Estatística conseguiram resumir a história da humanidade e um dos mistérios da existência numa pergunta do Census. Sinto-me como um daqueles bichos que roem o próprio rabo para escapar duma armadilha. Avanço para a próxima questão sem responder.

Práticas antigas

Uma das coisas que aprendi com a história é que aquela cena de queimar soutiens não é um exagero mas uma necessidade. Quando a pomos em prática percebemos que muitas vezes só assim conseguimos ser ouvidos. É um último recurso que salva o direito de expressão. Hoje queimei soutiens numa reunião zoom. Agora vou voltar a Cioran.

Antes do sentido histórico

Tudo acontece de forma atabalhoada, parece que estamos dentro de um parque temático enorme e decadente. Vejo as fotografias da invasão do Capitólio e penso nas histórias e nas personagens de Saunders. Antes de ser arrumada nos manuais com uma boa dose de patine, a história é sempre assim — com este sentido de pressa e confusão?