Esta greve dos motoristas é um dos acontecimentos políticos mais interessantes dos últimos tempos. Se avançarmos para além das questões básicas que excitam os jornalistas, deparamos com uma paisagem complexa* que merece atenção e análises em várias frentes. Mas o facto que me perturba mais talvez seja como, sobranceiros a todos os discursos**, os eternos valores da honra e vergonha traçam o nosso destino. * O desconhecimento generalizado (envolve políticos, comentadores, historiadores, isto é, gente que vive numa situação económica paralela) dos ordenados pouco acima dos valores mínimos instituídos e das condições de trabalho degradadas da maioria dos trabalhadores; a iliteracia financeira que impede a leitura correcta de um recibo de vencimento e dos esquemas que esconde; a manha das pequenas e médias empresas que disfarçam uma gestão vaidosa e mal feita, sempre no fio da navalha, assente em salários baixos e sem perspectivas de crescimento, assumindo tantas vezes o velho papel
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral