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Rubem Fonseca

À rudeza do seu estilo de base, feito de concreto, acrescenta a extravagância do vitralista. E ainda deixa toda a construção à mostra: betão, vidros coloridos, andaimes, entulho, a exuberância da língua. Ah, a exuberância da língua.

Peguei “Carne Crua” do expositor de novidades da biblioteca.

Os contos são muito curtos, leio “Gosto de ver o mar” entre o Campo 24 de Agosto e Francos e ainda me sobra tempo para ver quem vem na carruagem, olhar lá para fora, verificar as temperaturas previstas para hoje. O tamanho não é defeito; nem as repetições dos temas ou o estilo de identidade. O problema é que já vou a meio e continuo com a sensação que “Carne Crua” é um livro de marca branca. Rubem Fonseca está a escrever como um Rubem Fonseca mais fraquinho e mais barato. Parece livro falsificado ou até escrito no celular? Tem Wikipédia a mais. Tem cansaço a mais. Não basta sacar da pistola e citações em latim para assegurar uma função. Nem mesmo a Rubem Fonseca. Que pena! Já perto do fim, “Nada de novo” acaba por safar o livro. Se fosse só este conto. E mesmo assim.

Sapos & homens

O Princípio da Singeleza não se aplica a Bufo & Spallanzani. Neste romance tudo é fim, aparato e fausto. O ritmo rápido e engatilhado das sequências é uma pista falsa. Aliás, creio que Guedes, o tira, só existe com aquelas qualidades tão planas para contrastar com o multiforme Gustavo Flávio (em francês, Gustave Flaubert). Narrador e narração são exuberantes, no sentido dos pássaros que ganham cores e dimensões exageradas para as suas conquistas sexuais (ver Ronald Fisher). A questão do género policial também é um artifício, o homicídio de Delfina Delamare (em francês, Delphine Delamare) não passa de um macguffin. Conclusão: Bufo & Spallanzani não é bem um livro, mas uma aula de literatura — convém chegar prevenido. Só recebe quem dá. ——— “É apenas uma história de sapos & homens. Nada a ver com a simbologia de Of mice and men . Na orelha do livro o editor dirá alguma coisa para ilustrar e motivar o leitor. Na França, pois o livro será editado em outros países, como te...

Princípio da Singeleza (ver Guedes)

Como se aproximam semanas com feriados, trouxe três livros. E como estava a cair uma chuva miudinha, não fria mas desagradável, escolhi escritores brasileiros: dois do Rubem Fonseca e um do Bernardo Carvalho. Uma das coisas que gosto nos livros emprestados é das marcas. Há livros que estão impecáveis, porque ninguém lhes pega. Outros desfazem-se. E muitos têm sublinhados, geralmente a lápis — deve ser a correspondência gráfica do falar baixinho das bibliotecas. Tive sorte, saíram-me: um sublinhado com anotações; um sublinhado com dedicatória (os do Rubem Fonseca que se presta mais a conversa e carinhos vários). Mesmo os livros mais fraquinhos de Rubem Fonseca (“Mandrake — A Bíblia e a Bengala” é bastante fraco; “Bufo & Spallanzani”, apesar do belo título que apetece dizer em voz alta e modulada, ainda está em apreciação) são sempre divertidos e muito instrutivos (gosto tanto quando ele se desvia da história e resolve escrever texto de almanaque sobre sapos, facas ou o que seja)...