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Juste une image

Em 1976, as pessoas de Trás-os-Montes não gostaram da cena da neve. Acharam que os denegria, que não correspondia à realidade, que ninguém é tão pobre que coma neve.  A própria Margarida tinha algumas reservas: Essa ideia foi mesmo do António. Significava uma pobreza extrema. E claro que a neve não alimenta. Eu ai pus uma certa reserva. A neve é bonita mas não alimenta. E também não era neve... É qualquer coisa da produção, uma espécie de espuma... Eu aí reagi um bocado. Primeiro porque não alimenta. Segundo porque não era verdade... Pus uma certa reserva. Mas a única reserva que ponho actualmente é a lentidão. Dura muito. A duração dessa plano devia ter sido encurtado .  Mas a força da cena vem precisamente da sua profundidade e da sua  duração ; quando vemos a neve (apanhada, servida, comida) paramos e temos tempo para compreender o que é a pobreza e, se dermos um passo atrás, o que é uma imagem.  Há palavras de Kafka em Trás-os-Montes , mas esta imagem — destemid...

O horror!

Se de repente uma mão invisível desligasse as televisões e aparelhagens de som de todos os cafés, esplanadas, restaurantes, lojas, salas de espera, repartições públicas, casas, apartamentos, T1, T2, T3 Duplex, e voltássemos a escutar apenas o som da nossa voz, não nos reconheceríamos. O vazio, o silêncio, o perfil sem fotografia, a conta sem actualizações, a folha em branco, é como uma espécie de morte em vida. O horror! O horror!