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Tchékhov, contos de impacto e funis de venda

 

Porque lêem o Evangelho, porque rezam?

Leio no jornal o relato de novos crimes cometidos pelas autoridades gregas contra refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo em direcção à Europa. Agora, além de impedirem as embarcações de chegarem a terra, também levam refugiados de terra para o alto-mar, expondo-os ao risco iminente de naufrágio e morte. O The New York Times relata o caso, documentado em vídeo , de um grupo de refugiados com várias crianças e um bebé levado de Lesbos pelas autoridades gregas e abandonado no mar Egeu. Na novela A minha vida , Tchékhov escreve: Em que é que estes homens estúpidos, cruéis, preguiçosos, desonestos, são melhores do que os mujiques bêbados e supersticiosos, ou do que os animais, eles que também se transtornam assim que qualquer acontecimento vem quebrar a monotonia da sua vida, limitada pelos seus instintos? Lembro-me de cães torturados até à morte, ou que enlouqueceram, de pardais depenados vivos por garotos e lançados depois à água, e de toda uma longa, longa vida de lentos e mud

O Cervejal

Foi para aí nos anos oitenta: um tipo que trabalhava para a companhia de teatro TEAR, uma espécie de contínuo, referia-se à peça de Tchékov como «O Cervejal». Não era um trocadilho, pensava mesmo que era assim que o texto se chamava. Sem querer, e por pura afinidade ( tendência dos corpos para se unirem ), tinha inventado uma palavra. Se estivesse para aí virado (quer dizer, se fosse o Valério de «Leôncio e Lena » ) até podia criar um conceito. E que conceito!

Equivalências

Um livro sobre Helen Keller, muda e cega, conta, entre outras coisas, como a sua preceptora lhe explicava o branco e o negro com a ajuda de um piano: no mais alto do teclado, era o branco; o negro ocultava-se nos sons mais profundos... Para que a obra de Tchékhov, para que o homem Tchékhov atinjam a consciência de um público não-russo ser-me-á necessário encontrar uma equivalência semelhante à dos sons-cores. Elsa Triolet, A vida de Anton Tchékhov . Tradução de Alfredo Brás.

A vida na Terra

Fomos ver Drive my Car , de Ryûsuke Hamaguchi. Sob a fina película do filme - a pele do filme? -, um número incontável de histórias cresce em todas as direcções. Cada personagem tem sete vidas, muda sete vezes de máscara, voa de um palco para o outro, exprime-se na sua própria língua. E, no entanto, tudo parece perfeitamente claro e transparente. Tudo está iluminado, como num milagre, como numa peça de Tchékhov. Parece que nada nos escapa, de que percebemos tudo, porque a língua do milagre, a língua de Tchékhov, é a grande língua comum, universal, o esperanto da alma e dos sentimentos. Nada mais enganador.

A Perfect Day

Uma adaptação do Tio Vânia. Quinze minutos e as personagens que estão em cena já se aborrecem. Chove. A tinta está a descascar das paredes e das portas. Pausa.  ELENA: Que belo tempo que está hoje... Não faz calor...  Pausa.  VÂNIA: Está bom tempo para uma pessoa se enforcar... Na literatura há mais intersecções do que coincidências