O noticiário da rádio abre aos gritos. A primeira página do jornal treme em convulsões. Febre e suores frios nos canais de televisão. É hoje, hoje, hoje! É hoje o grande espectáculo! É hoje o grande combate! É hoje a grande final! Senhoras e senhores, à vossa esquerda, o campeão em título, o leão do Rato, o devorador de comunistas que devoram criancinhas, o homem sem medo, o colosso do punho de ferro. À vossa direita, vejam bem: o cavaleiro sem cabeça, o filho do acaso, o homem invisível, o lidador do vazio, o gladiador que se faz de morto, a grande nuvem. É hoje que tudo se decide. Frente a frente, olhos nos olhos. Quem for ao tapete, está perdido. Se é sensível ao sangue, não se aflija: logo a seguir ao grande combate e aos anúncios publicitários, assista às pequenas lutas de galos entre os nossos comentadores residentes. Eles explicam-lhe tudo o que aconteceu e não aconteceu, entre beliscões benignos e pancadinhas inofensivas, sem fazer feridas ou deixar marcas. É hoje, é hoje, é ho