Logo no início, quando filma os miúdos na rua a caminho da escola, Kiarostami diz a alguém que meteu conversa que o que está a fazer não é bem um filme, é mais um estudo ou uma pesquisa. Trabalhos de Casa não segue as convenções, é verdade, mas é cinema — totalmente . Kiarostami começa por nos mostrar as técnicas básicas do ofício: iluminação, colocação da câmara, montagem campo-contracampo ( ternamente ). É na cena do pátio, porém, que nos damos conta da força do seu olhar cinematográfico: os rapazinhos são obrigados a entoar cânticos religiosos, mas querem é brincar e aquele ritual transforma-se numa gritaria; a determinada altura, Kiarostami corta o som e então, no silêncio forçado, percebemos o que se passa naquelas escolas ( tragicamente ).
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral