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Observações avulsas sobre o bonfim #76

O partido e a coligação que podem ganhar a presidência da câmara já fixaram os últimos cartazes da campanha no Campo 24 de Agosto. Vêm de um tempo futuro hipotético para além dos indecisos e das sondagens e seguem as mesmas regras de comunicação: já não se trata de mais um candidato, mas do «novo presidente» ou «presidente à moda do Porto» investido do desejado poder. Os dois afirmam assertivamente: Ganhamos! No entanto, em termos simbólicos nem tudo são vitórias. O cartaz de Pizarro é vulgar, mas pelo menos nele reconhecemos o homem (mais ou menos descontraído, em plano americano) e não formas geométricas como no início. Pelo contrário, Pedro Duarte fez o caminho inverso e transformou-se numa verdadeira imagem de banco – parece um protótipo de presidente de câmara, incaracterístico e demasiado pós-produzido, pronto para uma série da Netflix. 

Observações avulsas sobre o bonfim #72

O Rui das Frutas Frescas mudou para a Rua do Bonfim (junto à Confeitaria Abreu) e a movida dos sábados de manhã no Campo 24 de Agosto perdeu profundidade de campo. Agora, passa-se tudo no outro passeio: o vai e vem da vendedora de meias e o friso de cervejas matinais no Café Saudade.

Observações avulsas sobre o bonfim #70 (fado da frutaria)

A maior parte das frutarias populares do Porto é território agreste. A fruta é barata, por isso os clientes (gente com pouco dinheiro, muitos imigrantes) aguentam as repreensões constantes e não se melindram com os avisos colados nas paredes. Apanho quase sempre a Sofia irritada e aos berros na caixa. Hoje de manhã, depois das brejeirices habituais, gritou a um cliente: não arranque as folhas do coração, eu não vejo, mas ouço .

Observações avulsas sobre o bonfim #69

No outdoor do PSD no Campo 24 de Agosto, lê-se em palavras destacadas: pessoas [no] bom caminho . Parece o paleio das igrejas que vendem a salvação a prestações.  Prefiro o revés, prefiro a sabedoria louca da mulher do camião: Que-le-monde-aille-à-sa-perte-c’est-la-seule-politique...

Observações avulsas sobre o bonfim #68

Agora, aos sábados de manhã, há sempre polícias no Campo 24 de Agosto. A semana passada eram mais de dez e vários carros e carrinhas azuis. Parecia uma zona de perigo. Perguntei o que se passava, disseram-me que se tratava de  uma acção de cosmética .  Ontem era só um carro e quatro polícias. Quando desci a Avenida Fernão de Magalhães para ir comprar fruta, estavam junto ao Pingo Doce a mexer nos telemóveis. Se calhar andavam à procura dos homens maus nas redes sociais.

Observações avulsas sobre o bonfim #67

Ao chegar ao Batalha por volta das cinco e meia, passaram por mim três homens a falar alto. Um deles disse: então andavam para aí com martelos e ferros e nós havíamos de nos ficar? Foi muito bem feito. Que vão para a terra deles. Parei e fiquei a olhar. Eles saíram de campo e então vi, em frente à Igreja de Santo Ildefonso, os polícias do Corpo de Intervenção destacados para o cortejo da Queima das Fitas.

Observações avulsas sobre o bonfim #66

A mulher que costuma vender 5 pares de meias por 5 euros junto à paragem de autocarros do Campo de Agosto aos sábados de manhã percebe muito de comércio. Hoje, por causa da morrinha, vende guarda-chuvas. Apregoa «guarda-chuvas para a chu-va» partindo ao meio a palavra chuva e carregando no som grave. Está vestida de preto, mas por cima da roupa tem um avental cor-de-rosa com rendinhas. O avental cumpre dois papéis: confere-lhe imediatamente visibilidade e estatuto de vendedora e é uma caixa registadora portátil — serve para guardar o dinheiro no bolso (grande e ao centro) com fecho-éclair.

Observações avulsas sobre matosinhos sul #65

Não tenho medo da minha sombra, é até uma das partes do meu corpo (?) que prefiro. Mas há bocado, vinha a caminhar junto à Casa de Arquitectura, de sul para norte, apercebi-me de duas sombras gémeas na parede à minha direita, uma no encalço da outra e estremeci — como quando lia as histórias assustadoras de Allan Poe.

Observações avulsas sobre o bonfim #64

Mais, le lendemain matin.

Observações avulsas sobre o bonfim #63

 

Observações avulsas sobre matosinhos sul #58

Os três metrosideros que crescem no areal de Matosinhos (um encostado ao muro e os outros dois a cerca de cinquenta metros do início da praia, junto às esplanadas Lais de Guia e Titan) são dos melhores exemplos de sobrevivência que conheço.  É o que o futuro nos reserva: aprender a viver no deserto.