Mas o que me agrada mais em Wittgenstein é, nem sei bem definir isto — uma atração distraída pelas coisas concretas? Nos textos e (talvez) nas aulas, Wittgenstein recorre com frequência a objectos para expor exercícios de lógica. Folheando as notas de “Cultura e Valor” muito depressa, encontro: torre de igreja, árvore, cascalho, mochila, chapéu, palha, pedra, caneta, espelho, poste de sinalização, fechadura, chave, lentes, cavalo, carruagem, carris, argamassa, pedra, gaveta, sapatos, aviões, lantejoulas, porta, dedal, bolhas, montanha, celofane, casa, tesoura, bolo, moeda, estrela, erva. Os substantivos sobressaem pela sua natureza: são extremamente visuais; são cor, forma e função. Mas sobressaem também porque conseguem criar uma divergência qualquer dentro da frase — tocam. Tocam como uma campainha de recepção. Por exemplo, nesta nota (que é uma das minhas preferidas do livro): “Procurar o erro num argumento duvidoso e esconder o dedal.” Apesar de escondido, o dedal fica a ressoa
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral