Já não vale a pena fazermos o cinema da esperança socialista. Da esperança capitalista. Já não vale a pena fazermos o cinema de uma justiça por vir, social, fiscal ou outra. O cinema do trabalho. Do mérito. O cinema das mulheres. Dos jovens. Dos portugueses. Dos malianos. Dos intelectuais. Dos senegaleses. Já não vale a pena fazermos o cinema do medo. Da revolução. Da ditadura do proletariado. Da liberdade. Dos vossos fantasmas. Do amor. Já não vale a pena. Já não vale a pena fazermos o cinema do cinema. Já em nada acreditamos. Acreditamos. Que alegria: acreditamos: em nada. Já em nada acreditamos. Já não vale a pena fazermos o vosso cinema. Já não vale a pena. Temos de fazer o cinema do conhecimento disso: de não valer a pena. Que o cinema vá para o inferno, é o único cinema. Que o mundo vá para o inferno, que vá para o inferno, é a única política. O Camião. Textos de Apresentação. Primeiro Projecto. Marguerite Duras (tradução revista).
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral