Há uns tempos, li com imenso prazer a novela O Senhor Secretário , de Henryk Sienkiewicz. Na altura, fiquei com a impressão de estar a ler um Gógol meio desfocado. Não sabendo explicar melhor, desisti de tentar desenvolver a ideia. Agora, nos diários , Gombrowicz parece confirmar a minha impressão: E aqui - um paradoxo: este escritor conservador é neste sentido um precursor da actualidade revolucionária, este escritor «crente» está inconscientemente próximo da filosofia que refuta os valores absolutos e vive a dialéctica dos valores relativos resultantes das necessidades, nas quais o homem se torna a medida do valor. (...) Seria impossível um Sienkiewicz ateu, um Sienkiewicz bolchevique? Pelo contrário, é possível na medida em que, se algum dia a modernidade vermelha polaca publicar o seu grande romancista, será justamente Sienkiewicz à rebours . Todavia, ele não se via a si mesmo desta maneira. Disto não se apercebeu. E se se tivesse apercebido, teria acabado consigo mesmo na hora, e
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral