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Sienkiewicz/Gógol

Há uns tempos, li com imenso prazer a novela  O Senhor Secretário , de Henryk Sienkiewicz. Na altura, fiquei com a impressão de estar a ler um Gógol meio desfocado. Não sabendo explicar melhor, desisti de tentar desenvolver a ideia. Agora, nos diários , Gombrowicz parece confirmar a minha impressão: E aqui - um paradoxo: este escritor conservador é neste sentido um precursor da actualidade revolucionária, este escritor «crente» está inconscientemente próximo da filosofia que refuta os valores absolutos e vive a dialéctica dos valores relativos resultantes das necessidades, nas quais o homem se torna a medida do valor. (...) Seria impossível um Sienkiewicz ateu, um Sienkiewicz bolchevique? Pelo contrário, é possível na medida em que, se algum dia a modernidade vermelha polaca publicar o seu grande romancista, será justamente Sienkiewicz à rebours . Todavia, ele não se via a si mesmo desta maneira. Disto não se apercebeu. E se se tivesse apercebido, teria acabado consigo mesmo na hora, e

Excessos vergonhosos

Passo o feriado a ler O Senhor Secretário , a magnífica novela de Henryk Sienkiewicz. A dada altura, o narrador conduz o leitor à igreja de Wrzeciadza. É domingo de manhã e o padre Czyzyk celebra a missa. Durante o sermão, o vigário evoca a «heresia dos maniqueus cataristas». O narrador comenta que não sabe a que propósito vem esta referência aos maniqueus cataristas na homília do vigário: «Não sei por que causa ou razão.» O tradutor, Isolino Caramalho , introduz uma nota de rodapé para esclarecer o leitor sobre estes misteriosos maniqueus cataristas: «Seita religiosa, cujos adeptos se entregavam a excessos vergonhosos.» Apenas isto. Nem mais uma palavra. Mas a que excessos vergonhosos se entregavam eles? Isso é que eu gostava de saber.