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Durante a noite

Ontem, depois das dez, a polícia fechou a entrada do bairro com dois carros-patrulha. Um camião gigante veio e ocupou a rua. Homens com coletes reflectores elevaram-se no ar, bruxuleantes como pirilampos. Uma grua com mais de vinte metros desapareceu durante a noite. Esta manhã, o céu está cheio de nuvens e gaivotas. Nada mais.

Composto para o refrigério dos espíritos

Cioran é um tipo esquisito — nisto todos concordam. Está na filosofia como se estivesse sentado na esplanada do café, ensimesmado, sempre a ruminar nos mesmos assuntos, cabelo no ar, leituras e releituras a mais, praticando um francês de meteco, sem pensamentos excepcionais mas, acima de tudo, sem método nem maneiras (aliás, acho que é por isso que a academia e a crítica encartada o rejeitam ou, pelo menos, torcem o nariz aos seus aforismos aflitos). A objecção mais comum é que ele repisa o que já foi dito e pensado e é muito teatral (ahah! o espírito balcânico). Um chato ou um charlatão da disciplina que não chega aos calcanhares de não sei quem. Os ataques atingem o alvo, é verdade, mas apenas porque a noção de filosofia usada é bastante burocrática. Precisamos de um conceito mais dinâmico — os êmbolos do pensamento ao ritmo dos pedais . Se Cioran não diz (quase) nada de novo, di-lo, ainda assim, de uma forma incomum e torrencial. Privilegia a linguagem vulgar, as palavras banais da