Um avarento jazia mui mal enfermo pera morte. Este homem havia muitas riquezas e nunca se aproveitava delas nem tanto a Deus, nem quanto ao mundo, nem pera seu corpo. E jazendo assim chegado à morte, sua mulher entendendo que não havia em ele vida, chamou uma sua servente e disse-lhe: — Vai tostemente e compra três varas de burel pera envolvermos meu marido em que o soterrem. E disse-lhe a servente: — Senhora, vos havedes uma grande teia de pano de linho, dade-lhe quatro ou cinco varas ou aquilo que lhe avondar em que o soterrem. E a senhora disse-lhe queixosamente: — Vai faze o que te mando, ca bem lhe avondaram três varas de burel, segunda eu sei a sua condição e a sua vontade. E estando em isto falando a dona e a servente, ouviu isto aquele homem avarento, e esforçou-se quanto pôde pera falar e disse: — Não comprade mais que três varas de burel, e fazede-me o saco curto. (...) Citado por Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português , Vol. 2.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral