Estou há mais de um ano fechado em casa, em teletrabalho. Tenho pensado muito em Robert Walser. Talvez a insistência dele em caminhar, sempre que possível, quilómetros a fio, debaixo de sol ou chuva, contra o vento ou sobre a neve, fosse o seu grande acto de rebeldia. Quer dizer, a expressão da sua dignidade, liberdade, insubmissão. Mais até do que a escrita, que é outra maneira de caminhar, mas sentado. No meu caso, nem isso. O trabalho consome o melhor do meu tempo. O tempo que qualquer ser humano deveria usar para caminhar com os pés e a imaginação.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral