Os carros nos filmes iranianos. São prisões. Mas prisões em movimento. A paisagem a deslizar, do outro lado da janela, é a parte do filme que não é inteiramente acessível e que é preciso imaginar. Tal como um preso imagina o que se passa do outro lado da cela. O personagem pode parar, sair do carro e caminhar um pouco pelo mundo. Mas não por muito tempo. É uma breve saída condicional. O personagem já não sabe onde pôr os pés. Há mil armadilhas. Um dedo invisível aponta-lhe rapidamente o caminho de volta. Resta-lhe entrar no carro e arrancar. O interior do carro é como o interior do crânio. É aí que tudo se passa: todas as manifestações da vida, especialmente o medo, o terror, e o seu fruto mais cruel e maduro, a paranóia.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral