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Há ursos lá fora

Os carros nos filmes iranianos.  São prisões. Mas prisões em movimento.  A paisagem a deslizar, do outro lado da janela, é a parte do filme que não é inteiramente acessível e que é preciso imaginar. Tal como um preso imagina o que se passa do outro lado da cela.  O personagem pode parar, sair do carro e caminhar um pouco pelo mundo. Mas não por muito tempo. É uma breve saída condicional. O personagem já não sabe onde pôr os pés. Há mil armadilhas.  Um dedo invisível aponta-lhe rapidamente o caminho de volta. Resta-lhe entrar no carro e arrancar.  O interior do carro é como o interior do crânio. É aí que tudo se passa: todas as manifestações da vida, especialmente o medo, o terror, e o seu fruto mais cruel e maduro, a paranóia.

Iguana

Nos últimos dias, a cidade foi tomada por uma vaga de cartazes publicitários a anunciar “seguros de vida em caso de doença oncológica”. Parece ser o novo produto estrela das seguradoras. O seguro não é para quem tem cancro, como é óbvio, mas para quem receia a doença. Penso naquela iguana que aparece e desaparece em  “Isto não é um filme” , de Jafar Panahi. Aquele bicho lento, viscoso, grotesco, ancestral, que observa tudo o que se passa à sua volta. Não é apenas uma metáfora do regime policial do Irão, que vigia e restringe a liberdade do realizador, mas é a imagem de todas as ameaças, reais ou imaginárias, que nos perseguem a todo o momento e de todos os lados. Dentro e fora de nós.