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A mostrar mensagens com a etiqueta Rui Manuel Amaral

Tradutores à revelia

Ontem, na Térmita, o Rui confessou que traduziu autores de língua espanhola (pelo menos Oliverio Girondo, Roberto Arlt, Rúben Darío e Virgilio Piñera) sem saber falar espanhol. Eu traduzo do francês sem as devidas credenciais académicas. Acho que devíamos fundar uma associação não profissional de tradutores à revelia.

A Grécia de que falas

Bastava o nome Manuel Resende ou, se quisesse somar qualidades, o trabalho meticuloso do Rui Manuel Amaral e da Tatiana Faia, a intrepidez editorial da Língua Morta. Mas não foi nada disso, o amor também tem minudências: abri o livro à sorte, encontrei a palavra “ganapos” na página 149 e caí na armadilha de uma relação inevitável.

A minha biblioteca é mais divertida do que a tua, Alberto.

Aproveitei o fim de semana de chuva e nuvens para limpar os livros. Tirando algumas colecções, autores ou temas que têm direito a uma prateleira inteira, arrumei os restantes por ordem alfabética. Às vezes tive de fazer pequenas falcatruas. Por exemplo: empurrei Guillaume Apollinaire mais para a frente para o Rui Manuel Amaral ficar juntinho ao Roberto  Arlt . Robert Walser é o escritor mais poliglota da minha biblioteca. Tenho livros em português, francês, inglês e alemão — ocupam trinta e cinco centímetros. Descobri três livros repetidos.

Oh, uma ocorrência literária!

Ando há mais de uma semana a tentar escrever sobre os “Cadernos de Bernfried Järvi” e não consigo. Enquanto estava a ler o livro, talvez por simpatia, assaltavam-me ideias fulgurantes, mas depois da última página, depois nada. Quase uma afasia; as ideias foram perdendo a força, as palavras revelam-se desajustadas. Passa tudo ao lado. Tento uma e outra vez. O nevoeiro alastra. Não é fácil fazer frente a este livro, não é um livro qualquer, não é um livro à toa. Pelo contrário, posso afirmá-lo sem rodeios: este livro é literário e tem um passado! E basta isso para o tornar marginal, suspeito e até perigoso ( é necessário acrescentar uma tarja vermelha , diria Pagreus). O problema são as provas, a linha cronológica existe mas vejo-a toda enrodilhada ( falta-me discernimento ) Mais do que uma crítica literária, os “Cadernos de Bernfried Järvi” pedem um bom detective, alguém que saiba controlar os adjectivos, um mapa de três dimensões, cervejas ou café, uma lupa, algumas nuvens e menos...

Dentro e fora

“Como escrever o romance de toda a gente? Como é estar no Porto quando isso é o mesmo que estar em Aachen? Como é estar impregnado de um  spleen  que subtrai as personagens à História e a todo o enraizamento local? Como é ver o mundo familiar a partir de um olhar que apreende a sua paradoxal estranheza?” O Rui foi para fora. Aproveito para espalhar umas estrelas e depois vou para dentro.