FÜRST: Não se pode chegar junto dele [do Governador]. Vive em outro mundo. Ignora-nos. Para ele somos como formigas. Tal como nós matamos uma formiga com o pé, assim ele pode matar um homem do nosso povo. M. SENTADO (meditativo) : Sabe o que penso, senhor Fürst? FÜRST: Diga. M. SENTADO: Que é como se não fosse um homem. FÜRST: Claro. M. SENTADO: Como se fosse... uma espécie de aranha. FÜRST: Isso mesmo. M. SENTADO: E que se pode matar como a uma aranha. Sem que tenhamos remorsos. FÜRST: Tal e qual. Como ele nos mata a nós. M. SENTADO: É bom saber isso. FÜRST: Porquê? M. SENTADO: Para o caso de chegar a ocasião. Agora que sei isto, penso que não vacilaria. Que lhe estouraria a cabeça e iria beber um copo de vinho e conversar com os amigos em alguma taberna. Não me tremeria o pulso. Talvez sentisse só um pouco de nojo. E o senhor? Também o mataria? FÜRST: Eu? M. SENTADO (insistente) : Se ele estivesse na sua frente e o senhor tivesse uma arma... matava-o? FÜRST (por fim) : ...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral