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Ganância

Centenas de vendedores protestam à porta dos escritórios do grupo chinês Temu: «A margem de lucro bruta que a Temu nos dá com os seus preços é entre 10% e 20%, por isso, depois das multas, sangramos ».  /// (...) Marcos Sousa é porta-voz da comissão de trabalhadores dessa empresa e explicou à agência Lusa o «luto» dessa comitiva: «Éramos uns 300 funcionários na fábrica e começámos a ser pressionados para sair. Neste momento a empresa já negociou a saída de 103 pessoas e agora quer alterar os horários das que sobram, para deixar de ter turnos rotativos e pagar menos pelo trabalho noturno».  (...) Esse dirigente sindical defende que «não é a crise a impedir os aumentos» — nota que a Amorim está inclusivamente a pedir horas extras aos funcionários da Champcork e da Socori para atender a encomendas no período de férias — mas admite pressões desse líder mundial da indústria sobre empregadores mais pequenos. «Só ainda não chegámos a acordo porque a Amorim pressiona as outras empresas a não

Amanhã há mais

Fim de tarde. Regresso a casa após mais um dia de trabalho. No metro, ouço um tipo dizer a outro: «Por hoje já está.» O segundo responde: «Amanhã há mais.» E isto é dito no tom branco e neutro de uma ladainha. É impossível perceber se existe um pingo de entusiasmo naquele «amanhã há mais» ou se, pelo contrário, é a tristeza que ali espreita e mostra a ponta fria do nariz.

Filosofia para os trabalhadores

Até acho fixe pagar a tal graduação , mas duvido do resto.  A cena da caixa é tão batida que já nem merece comentários.  «Ver coisas que outros ainda não viram» — ora bem, se conseguirem mesmo ver coisas inauditas, de certeza que isso não vai ser bom nem para a competitividade nem para os negócios. E a filosofia a servir de analgésico é uma ideia muito preguiçosa e estúpida.  O que espero (no fundo do fundo sou muito optimista) é que, concluída a pós-graduação, os trabalhadores se despeçam do grupo Dst com uma boa argumentação (a filosofia ensina a pensar e argumentar, não é?) — pelo menos assim não se perdia tudo.

Dia Mundial do Turismo

(...) O Sindicato recebeu recentemente uma reclamação sobre um hotel de cinco estrelas do Porto em que os trabalhadores saem às 23:00 e às 05:00 da manhã já têm de estar no hotel para servir os pequenos-almoços. (...)

Condições materiais da luta de classes

Foi ao ler o livro do Ramón Gómez de la Serna sobre o tango que me dei conta da importância transversal dos tacões nos comportamentos sociais. Por experiência própria já me tinha apercebido da necessidade de usar tacões (bastam sete centímetros) nos confrontos laborais — infelizmente nem os sindicatos nem os partidos de esquerda informam as trabalhadoras desta vantagem material que nos permite olhar de cima (e com algum desdém) o patronato. No fundo, trata-se de uma prática cultural — de fácil alcance, diga-se — de hostilidade ao capital e à sua acumulação.

Pretérito Imperfeito do Conjuntivo

(para publicar entre 25 de abril e 1 de maio) Um tipo encostado a uma parede a fumar um cigarro durante uma pausa do trabalho. Para além de rebater todas as imagens de banco (um dos combates mais necessários do nosso tempo — isso e liquidar o discurso publicitário que tomou conta da linguagem), é um dos momentos mais gloriosos da jornada laboral: uma brecha no tempo e no espaço; a condição de possibilidade necessária. (para ler com a entoação do amolador de Sicília!) — Ah, se ele se pudesse ver, se conseguisse sentir a força do seu gesto; e se decidisse fazer qualquer coisa com isso.