Compreenda, escrever aforismos é muito simples: vamos a jantares, uma senhora diz um disparate, isso inspira uma reflexão, regressamos a casa e escrevemo-la. É mais ou menos assim o mecanismo, não é? Ou então à noite temos uma inspiração, um princípio de fórmula, às três horas da madrugada escrevemos essa fórmula. E finalmente isso torna-se um livro. Não é sério. Não se pode ser professor universitário com aforismos. Isso não é possível. Mas, numa civilização em desagregação, este género de coisas está muito bem. É evidente, não se deve nunca ler um livro de aforismos de uma ponta à outra. Porque temos a impressão de caos e de uma falta de seriedade total. É preciso lê-lo unicamente ao anoitecer antes de nos deitarmos. Ou num momento de tristeza, de desgosto. Ler Chamfort de uma ponta à outra não faz sentido, pois os seus aforismos são generalidades instantâneas. É pensamento descontínuo. Você tem um pensamento que parece explicar tudo, aquilo a que chamamos pensamento instantâneo. É ...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral