Emil Cioran: Acho que a filosofia já não é mais possível senão como fragmento . Sob a forma de uma explosão. Agora já não é possível desatar a escrever capítulo após capítulo, sob a forma de um tratado. Nesse sentido, Nietzsche foi eminentemente libertador. Foi ele quem sabotou o estilo da filosofia académica, quem atentou contra a ideia de sistema. Ele foi libertador, porque depois dele podemos dizer qualquer coisa... Agora somos todos fragmentistas, mesmo quando escrevemos livros aparentemente coordenados. O que liga bem com o nosso estilo de civilização. Fernando Savater: Isso também está de acordo com a nossa probidade. Nietzsche dizia que na ambição sistemática, há uma falta de probidade... Emil Cioran: A propósito de probidade, deixe-me ainda dizer uma coisa. Quando alguém se lança num ensaio de quarenta páginas sobre o que quer que seja, parte de certas afirmações prévias e fica prisioneiro delas. Uma certa ideia de probidade obriga-o a respeitá-las até ao fim, a não
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral