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Good Vibrations

Ontem, a sala grande do Batalha cheia para ver Sayat Nova,  de Sergei Parajanov, parecia uma representação interior do que se passava nas ruas de Paris.
Painéis do Porto (1963), de António Reis.

Dois planos

Há um filme que se desenrola à porta do Batalha. Não faz parte de nenhum dos ciclos arrojados do Centro de Cinema. É apenas uma sequência de dois planos opostos. No primeiro plano, a câmara está parada junto à fonte, virada para o Batalha e para a Igreja de Santo Ildefonso. Fim da tarde. Ouve-se a música de baile do Orfeão do Porto, o som da fonte e uma ou outra frase dos turistas que passam com sacos, a comer, a olhar para os telemóveis, a tirar fotografias. É um plano aberto e muito longo.  Corte.  No outro plano já é noite, o público sai de uma sessão e o segundo adro da igreja está cheio de gente parada em fila à espera de comida. Agora é a câmara que se move, é um travelling sem fim e inquieto. Como se fosse a Lorenza Mazzetti a filmar mais uma adaptação de Kafka, como se fosse uma coisa inconcebível.

Influenciadores do século XX

Lorenza Mazzetti é uma mulher maravilhosa, basta ouvi-la um pouco no documentário de Brighid Lowe e Henry K. Miller para ficar entusiasmada com o seu bom humor e inteligência.  Teve uma carreira curta no cinema mas, ainda assim, deixou obras importantes e também um método de trabalho que vale a pena seguir. Não só roubou a película e pôs na conta da Slade School of Fine Art a revelação de K ( Metamorphosis ), como não acatou a proibição de Max Brod para não adaptar as histórias de Franz Kafka. Era o que faltava — logo ela que compreendeu Kafka inteiramente pelos olhos.

Vai no batalha

É evidente que estou aqui a título de penetra. Preparei uma aula sobre o que gosto (ou gostava?) mais de fazer: rever filmes. Falo um pouco de Bresson e Godard para dar consistência, mas a ideia é explorar as malandrices e perícia de Hitchcock em três filmes: Janela Indiscreta , Os Pássaros e o maravilhoso Perigo na Noite .  Não parece, mas é — há-de ser — uma sessão para desanuviar (mais não seja porque não percebo nada de questões teóricas de cinema). E desviar, também, se conseguir.  Segui o método de Hitchcock e tenho tudo tão delineado que podia contratar alguém para ir dar a aula com menos irregularidades — uma loira bem penteada, de tailleur cinzento e olhar perdido é que era. O curso é barato, mas aviso já que a admissão é difícil que se farta (muito pior do que o exame de condução); convém ir à prova cheio de cinefilia.