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A secreta negrura do leite

Três em linha

Number Seventeen

Um morto que afinal está vivo. Uma mulher que cai do tecto. Outra que é muda e surda, e que de repente desata a falar e a ouvir as conversas. Um autocarro que anda mais rápido do que um comboio. Um ladrão que é polícia, e um polícia que se disfarça de ladrão. Na cabeça de Hitchcock, Number Seventeen (1932) era uma paródia aos filmes de detectives. Mas uma boa parte do público não viu o filme dessa maneira. Um morto pode perfeitamente estar vivo e não há nada mais trivial do que uma mulher cair do tecto.

Vai no batalha

É evidente que estou aqui a título de penetra. Preparei uma aula sobre o que gosto (ou gostava?) mais de fazer: rever filmes. Falo um pouco de Bresson e Godard para dar consistência, mas a ideia é explorar as malandrices e perícia de Hitchcock em três filmes: Janela Indiscreta , Os Pássaros e o maravilhoso Perigo na Noite .  Não parece, mas é — há-de ser — uma sessão para desanuviar (mais não seja porque não percebo nada de questões teóricas de cinema). E desviar, também, se conseguir.  Segui o método de Hitchcock e tenho tudo tão delineado que podia contratar alguém para ir dar a aula com menos irregularidades — uma loira bem penteada, de tailleur cinzento e olhar perdido é que era. O curso é barato, mas aviso já que a admissão é difícil que se farta (muito pior do que o exame de condução); convém ir à prova cheio de cinefilia.

Os pássaros

Leio no Jornal de Notícias que os estudantes da Faculdade de Letras do Porto andam assustados. Têm sido atacados por violentos bandos de gaivotas, que lhes roubam a comida e a paz de espírito. O jornal inclui os comentários impressionantes de alguns alunos: Quando nos sentamos no pátio, elas colocam-se em posição, a observar e à espera. Mas o problema é que, quando atacam, é sempre todas juntas. Luís Aguiar, 20 anos. Eu já vi a roubarem algumas vezes. E como são agressivas, as pessoas têm medo. Jéssica Magalhães, 21 anos. Não podemos comer em paz. Acredito que a faculdade saiba. Mas deviam fazer alguma coisa. Rafael Tavares, 19 anos. O problema não é só no pátio. Já chegamos a estar dentro do bar, e a ter gaivotas ao nosso lado. Para além de incomodar, não é nada higiénico. Lucas Frias, 20 anos.

Hitchcock no Porto

A rua mais hitchcockiana da cidade é a Rua de António Cândido.

Linha de montagem

Quis filmar uma cena longa de um diálogo entre Cary Grant e um dos trabalhadores [de uma fábrica de automóveis da Ford] diante da linha de montagem. Por detrás deles, o carro começa a ser montado, peça por peça, até ficar pronto, com o nível do óleo controlado e o depósito de gasolina atestado; no final do diálogo, olham para o carro completamente construído a partir do nada e dizem "Isto é uma coisa formidável." Depois, abrem a porta do carro e cai um cadáver de lá de dentro. Hitchcock, Diálogo com Truffaut . Tradução de Regina Louro.

Ok. Show me.

Uma mulher a despir-se é um cliché característico da nossa civilização. Museus, calendários, revistas, anúncios, livros ou filmes estão cheios de imagens desse tipo. A melhor cena que conheço é do Vertigo : Alfred Hitchcock inverte completamente a situação, em vez de se despir, Kim Novak veste-se, mas com as roupas de uma mulher morta — no contracampo, vemos John Scottie em êxtase. A segunda melhor cena, revi-a há bocado. É do filme Christine  de John Carpenter. O Plymouth Fury 1958 foi completamente destruído, Arnie Cunningham está destroçado e não sabe o que fazer até que o rádio começa a tocar Harlem Nocturne (The Viscounts) e Christine reconstrói-se por si mesma.

Últimas aquisições

No n.º 35 da «Imagem - revista de divulgação cinematográfica», datado de Novembro de 1960, Eurico da Costa e Manuel Villaverde Cabral, no «quadro da crítica», despacham «Intriga Internacional», de Alfred «Hitchkock» (sic) com duas rotundas bolas pretas, quer dizer, com a classificação de “sem interesse”. Alberto Seixas Santos, mais generoso, dá ao filme duas estrelas em quatro possíveis, que correspondem à classificação de “Bom”. Mais à frente, no artigo de crítica ao filme, Seixas Santos afirma: «Não sou dos que tomam o nosso autor por um génio da metafísica, mas não quero também cair no pecado contrário e julgá-lo um imbecil.» O n.º 273 do «Jornal de Letras & Artes», de Janeiro de 1970, abre com um anúncio de página inteira do Banco Pinto & Sotto Mayor intitulado «Esclarecimento sobre o Cartão Sottomayor», onde se explica o funcionamento do cartão de crédito bancário, «processo novo em Portugal, mas utilizado já em larga escala num grande número de países.» «Consist